Marcos Ana, poeta espanhol que passou 23 anos preso pelo regime franquista, dá conta, no seu livro "Digam-me como é uma árvore", de um dos subterfúgios de que se socorreu para fazer com que os seus poemas "saltassem" os muros da prisão e chegassem ao mundo:
"Tinha de fazer sair os poemas clandestinamente e utilizava diversas formas. Um guarda que vivia na Colonia Yagüe, vizinho de uns parentes meus, foi o meu caminho particular durante os últimos anos. Às vezes havia situações especiais na prisão e fechavam-se todas as saídas. Recorria então excepcionalmente a um procedimento curioso. Informava-me dos companheiros que dentro de uns dias ou semanas iam sair em liberdade, escolhia o mais idóneo e fazia-o aprender um poema de cor, para que uma vez livre o escrevesse e enviasse para uma direcção combinada. Fazia-o repetir várias vezes, um dia a seguir ao outro, até ter a certeza de que estava bem decorado. Mas o meu querido e voluntarioso camarada, com a emoção da liberdade, o encontro com a família e aturdido pela vida, quando queria cumprir o compromisso que assumira comigo esquecia alguns versos e resolvia o caso acrescentando da sua autoria algo parecido com o que esquecera. E quando recuperei a liberdade e viajei pelo mundo, encontrei com grande surpresa poemas meus com um verso que me era desconhecido, como um remendo, que me feria o ouvido e a memória."